domingo, 31 de agosto de 2008

Paraíso de Sombras

Um segundo...
Um breve momento de pacifismo espiritual.
Uma corrente de ar fria que me gela os dedos calejados.
Não os consigo mexer.
Mas sinto-as!
Sinto as agitadas sombras.
As mais inexperadas manchas negras vindas da clara luz por cima do alto muro que separa a perfeição do pecado.
Um segundo...
e BUM!
Um feixe de luz vermelha vinda da mesma fonte cai sobre os pecadores incinerando-os e deixando apenas...mais sombras.
Quando não restava vida dos que outrora praguejavam pecado sobre a Terra, o muro cai, e numa enorme explosão a luz clara desaparece.
Nesse instante, a corrente de ar fria acalma, até que desaparece.
Ergui o rosto ao céu e fechei os olhos.
Sentia o calor dos primeiros raios de sol a brotar por detrás das cinzentas nuvens.
Meus trêmulos dedos ganhavam de novo vida.
Abri os olhos e tudo ganhara côr.
As sombras, lentamente, clareavam e desapareciam à medida que os raios de luz atravessavam a escuridão em direcção ao paraíso.
Incredulos, avançavam agora sobre a Terra os curiosos rostos pálidos.
Tudo era verde e azul.
Tudo era vida.
Mas todavia, uma dúvida pairava em cada alma que presenciara A Vida.
"Se Deus nos fez, por que se desfez ele de nós?"

De: André Brandão