sábado, 27 de dezembro de 2008

São desejos

Diz-me porquê?
Tudo parece desaparecer quando passo
Não há céu
Não há luto
Aqui só se contemplam pedras
Do tamanho de corações

São desejos
Perdidos
Congelados, petrificados
Espero que o teu se cumpra
O meu...
Traiu-me!

De: André Brandão

Posso não ficar mais...

Delicadas
Lembranças do que olhavamos
O que julgavamos nunca acabar
Tudo tem o seu sentido inverso
Se o nosso chegar
Serei o primeiro
O primeiro...

Quero poder ver como nasce o sol
Sem hesitar, mergulhar
E abrir os olhos
Ainda debaixo de água
Ver como fui ingénuo
Indiferente

Quero caminhar pela memória
Andar de mão dada com a lua
Quero reescrever a história
De desejar o tempo...
Mas o tempo não recua


De: André Brandão

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Pálida noite de Cores

Pouco restava dessa solitária noite
Ouviasse ao longe os trémulos sinos
Do topo de uma igreja qualquer
Chamavam pelos despertos
Tilintavam melodias fatidicas
Estremeciam o chão.

Do peito jazia um fio de cêra
E chamas por todo o lado
Lentamente, ecoavam gritos desesperados
Sopravam!
Todo aquele silêncio
Se tornara num tumulto
E multidões cercavam o teatro de chamas
Numa dança frenética.

E lá ecoavam, agora intensivas,
As vozes
Do mar sangrento
Sedento de Pecado

De: André Brandão

domingo, 31 de agosto de 2008

Paraíso de Sombras

Um segundo...
Um breve momento de pacifismo espiritual.
Uma corrente de ar fria que me gela os dedos calejados.
Não os consigo mexer.
Mas sinto-as!
Sinto as agitadas sombras.
As mais inexperadas manchas negras vindas da clara luz por cima do alto muro que separa a perfeição do pecado.
Um segundo...
e BUM!
Um feixe de luz vermelha vinda da mesma fonte cai sobre os pecadores incinerando-os e deixando apenas...mais sombras.
Quando não restava vida dos que outrora praguejavam pecado sobre a Terra, o muro cai, e numa enorme explosão a luz clara desaparece.
Nesse instante, a corrente de ar fria acalma, até que desaparece.
Ergui o rosto ao céu e fechei os olhos.
Sentia o calor dos primeiros raios de sol a brotar por detrás das cinzentas nuvens.
Meus trêmulos dedos ganhavam de novo vida.
Abri os olhos e tudo ganhara côr.
As sombras, lentamente, clareavam e desapareciam à medida que os raios de luz atravessavam a escuridão em direcção ao paraíso.
Incredulos, avançavam agora sobre a Terra os curiosos rostos pálidos.
Tudo era verde e azul.
Tudo era vida.
Mas todavia, uma dúvida pairava em cada alma que presenciara A Vida.
"Se Deus nos fez, por que se desfez ele de nós?"

De: André Brandão

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A Sombra

De manhã.
O primeiro raio de sol a tocar-te o rosto.
O calor da luz.
Atinge teu corpo e reflecte no chão a imagem de uma pessoa dentro de ti. A pessoa que te faz amar, sorrir, chorar, gritar...
Nunca estás sozinha.
Partilhas todos os segredos em silêncio, ainda que sejam só pensamentos passageiros, como se nao te lembrasses que és a pessoa com quem estas todos os curtos segundos da tua vida.
Caminhas, páras, olhas...tomas decisões, ages conforme as tuas necessidades...conforme a tua sombra te manda e faz sentir.
Por um momento, um breve momento da minha vida, sentime mais perto.
Cada dia era um passo em direcção a ti.
Cada lágrima um desabafo
Cada suspiro uma dificuldade ultrapassada.
Cada palavra um novo sentimento.
Frágil como um bebé.
Leve como uma pena.
Era assim o meu coração diante de ti.
Ao mínimo abalo desmoronava-se.
Decidis-te então.
Pegaste-lhe com jeitinho, e guardaste-o num cantinho junto ao teu.
Sou agora a tua sombra.
De dia, colado a ti, seguindo os teus passos.
De noite escondo-me em ti e no conforto do teu amor, fico contigo...Para Sempre!

De: André Brandão

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Últimos Desejos

Caminhar sobre a água sem me molhar nem a agitar. Segurar a vida com as duas mãos e gritar. Sentir calor e mergulhar em gelo negro, em fome e desespero. Cortar a raíz do mal e semear um suspiro de esperança no peito de alguém. Correr pela auto-estrada como se não houve-se ninguém. Fugir de mim sem me mexer e esconder-me sem me ver. Pegar numa rosa vermelha cor de sangue e morrer. Saltar de um precipício e embater no chão sem me magoar. Olhar as sombras das pessoas e não as ver. Enterrar a mão no peito e arrancar o coração para que deixe de bater.

De: André Brandão

domingo, 29 de junho de 2008

Dor Finita

Leve por um bocado

Porque me sinto odiado
Porque vivo obcecado
Porque me vejo assim

Porque sou descontrolado
Porque cresci agoniado
Porque se riem de mim

Sou o que sou porque o sou por ti
Porque um dia me transformei
Foi nesse dia que morri
Morri por ti porque me apaixonei

Ha-de ficar a imagem cravada
Numa rocha negra como carvão
De uma pessoa amada
Mas com uma enorme dor no coração

De: André Brandão

Instinto Libertador

Sofrida teimosia em volta do que seria melhor para continuar. Se faze-lo, ou parar simplesmente, guardar os sonhos de miúdo na gaveta de onde os tirei, para que alguem os possa concretizar, não por mim, mas por eles. A escolha foi minha e falhei. Estava confiante da minha vontade e caí sem deixar nada para trás. Levei tudo o que me apoiou até então. Levei também o que ja tinha ficado esquecido e que por momentos surgiu em menos segundos do que aqueles que perdera a olhar a parede fria do meu quarto enquanto pensava na proxima palavra que te havia de dizer no dia aseguir. Sempre odiei viver aqui, sabendo que estás do outro lado. Mas parece que tudo o que desejo foge de mim, antes de eu sequer me aperceber que me faz falta. Vivo um sonho à muito considerado impossivel e descriminado. Mas aprendi com um monte de coisas boas e más, que só é mesmo impossivel se cruzarmos os braços à espera que o tempo traga o que de nós levou. Liga-me ao pecado, ao desejo, à superstição se quiseres, mas quero que saibas que nao sou uma alma sem rumo. Eu sou o mapa de mim próprio. Sei que caminho escolher, sei que coisas fazer e não fazer, sei quando falar e sei quando ficar calado. Não me interessa se se opõe a mim. Tracei uma rota E VOU CUMPRI-LA!

De: André Brandão

Menos um Dia

Abre-se a janela expondo o interior frio e humido da monótona solidão de estar preso aos mesmos sítios, às mesmas pessoas, as mesmas ruas, edifícios, odores, pensamentos, sentimentos. Nunca numa vida houve quem dissesse "vou mudar o que sinto para que o que sinto mude o que eu faço". Nunca ninguém se atreveu a mudar o que está certo mas que tráz incertezas, para procurar o que está certo e que assim o será sempre. O medo de arriscar, o medo de falhar é o que faz com que tudo seja sempre igual para todos. Nao deviam de haver manuais para adolescentes, pois seguem todos as mesmas ideias e não há liberdade na mente de cada um. Estão limitados a seguir a base do que aprenderam. Já pensaram em sair dessa base e criar a nossa propria "casa"? começar de novo sem destruir o que começaram? Cada um livre de o fazer como quer e como bem entende sem lançar obrigações ou restrições a ninguém. Só assim alguem pode ser realmente feliz, porque nao basta dizer que se é feliz quando essa felicidade é apenas o que sente no momento. Nem imaginamos o que pode haver por detrás do que aprenderam. Não é uma regressão, é apenas uma aprendizagem do que ficou para trás. Seguiremos todos o mesmo percurso ate ao mesmo fim, vivendo de recordações identicas a todos. Ninguém é especial, ninguém é diferente. Vivemos um dia de cada vez sem o mudar, um dia a menos.

De: André Brandão

Fim Esporádico

Saído de um pesadelo quase perfeito, de uma constante luta pelo dominio do próprio coração, uma briga infantil de à uns anos atrás.
Nasceu uma alma nova. Um ser vitreo e puro como um botão de rosa negra. Uns chamam-lhe o início, pois eu chamo-lhe o fim. O fim do início e de tudo o que de natural tinha e usufruiu. Sempre o puxaram para baixo, sempre lhe deram razões para desistir, embora verdadeiras, as razões nunca o assustaram nem o chamaram à atenção. Tinha um objectivo em mente e era tão forte o desejo de o concretizar como se vive-se numa auto-estrada sem desvios nem atalhos. Não caía nos erros fúteis de mentira e traição. Seguia uma luz igual à sua. Residía no centro do peito e só por vontade própria, a luz podia iluminar o percurso nocturno que era viver num sonho desfocado com memórias perdidas e recordações soltas do que fôra outrora uma vida. Uma prova de força e coragem em simultâneo. Tinha ideia de ser vista por entre o desespero dos outros, as lamentações excessivas do quão importante era para elas o orgulho e ambição de ter valor sem sentir prazer, o prazer da satisfação pessoal, pois não precisava de saber que era reconhecido como tal, por tal feito, mas sim saber que a luta é infinita e que não foi em vão o esforço e dedicação neste jogo das escondidas que é a vida.

De: André Brandão